16 de abril de 2010

Fala Vettel

O jovem piloto alemão Sebastian Vettel concedeu uma entrevista ontem ao jornalista Livio Oricchio do Estadão,um papo franco e descontraido daquele que certamente entrará para o seleto grupo dos campeões mundiais em breve.


E – Você nunca escondeu que Michael Schumacher é seu ídolo e disse ter seu poster na parede do quarto. Ainda o mantém lá?


Vettel – (Risos) Não. É verdade, Michael inspirou mais de uma geração de jovens na Alemanha, dentre eles eu, a ponto de manter seu poster em casa até meus 13 ou 14 anos. Depois disso eu o substituí por posters de mulheres peladas.



E – E hoje, como é correr, disputar o mesmo espaço com aquele que foi a referência para escolher sua profissão?

Vettel – Quando me encontro na pista não importa com quem estou lutando. Lembro-me da minha primeira temporada inteira, em 2008, na Toro Rosso. Acabei me envolvendo numa disputa roda a roda com Fernando Alonso, ele na Renault, em Hockenheim, durante várias voltas. Venci. Somei um ponto com o oitavo lugar. Era o máximo para mim na época. Mas depois da bandeirada comecei a refletir que eu havia ganhado de Fernando Alonso, duas vezes campeão do mundo. Foi demais. Hoje o vejo, assim como a Michael, como adversários, o desafio é o mesmo que superar qualquer piloto.



E – Você reúne todos os elementos para chegar ao título. A opinião é da maioria na Fórmula 1. O que lhe daria o título também de o mais jovem campeão da história. Sente a pressão?

Vettel – Para ser campeão você tem de estar no lugar certo, na hora certa.



E – Desculpe, você está.

Vettel – O fato de termos sido os mais rápidos nas três primeiras corridas não quer dizer que será assim até o fim do ano. Para sermos campeões temos de evoluir o carro como os outros farão para manter essa pequena vantagem a nosso favor. Corrida se ganha na pista. Vimos esse ano o que aconteceu (Vettel liderava com folga as duas primeiras etapas do calendário, Bahrein e Austrália, e enfrentou problemas no carro). Nunca é fácil e nunca foi para mim. Nas categorias de acesso eu estive perto de interromper a carreira por falta de dinheiro. Devo muito a Red Bull por ter acreditado em mim. Aprendi muito nesses momentos de dificuldades. Se você se desesperar, aí, sim, será o fim. Você vai com certeza errar. Na última corrida nós vencemos, ótimo. Acalmou tudo na equipe. Mas se tivesse chegado em terceiro, diante do que ocorreu antes, já me sentiria satisfeito. O campeonato é longo.



Estado – Você diz ter gratidão com Mateschitz. Ele, porém, já afirmou que a forma de mantê-lo na Red Bull é oferecendo um carro vencedor. Aceitaria um convite da Ferrari?

Vettel – Mateschitz falou a verdade, como sempre. Ele ama a Fórmula 1, coloca muito dinheiro aqui. Mas sabe também que meu negócio é ganhar corridas, disputar títulos e que se isso não for possível na Red Bull vou procurar outro time, Ferrari, McLaren… Mateschitz disse tudo.



Estado – Você tem 22 anos e já é um homem muito bem sucedido financeiramente (estima-se que receba € 8 milhões por ano, mais bônus por vitória e eventual título). Como é ter uma conta bancária como a sua sendo tão jovem?

Vettel – É verdade, se você me comparar com meus amigos, todos estudantes, verá que estou fazendo um trabalho melhor, ao menos financeiramente (risos). Mas não me vejo diferente deles. Gostamos das mesmas coisas. Ok, eu adoro pilotar carros de grande potência, rápidos, e minha condição me permite tê-los. Fora disso, não é diferente. Mais que dinheiro, possuo a possibilidade de aproveitar a vida, não estou doente. De que adiantaria ter tanto dinheiro e não poder usufruí-lo? Lembro da vitória com a Toro Rosso em Monza, em 2008. Eu no pódio, aquelas pessoas enlouquecidas lá embaixo, a minha equipe, da mesma forma. É disso que você se recorda, dessa carga forte de emoção, não se o seu salário ou o bônus pela vitória caiu na sua conta bancária.”

Crédito:Livio Oricchio - Estadão

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