1 de março de 2010

Um papo com Fernando Alonso


Livio Oricchio jornalista do Estadão foi recebido por Fernando Alonso para um entrevista em Barcelona durante os testes coletivos,num papo interessante falaram sobre as espectativas do espanhol para a atual temporada,o seu relacionamento com Felipe Massa,sobre o retorno de Michael Schumacher,entre outros assuntos,vale conferir.





Estado – Há um consenso no paddock da Fórmula 1. Você nunca pareceu tão feliz.

Alonso – (Risos) Sim. É simples entender. Trabalho no lugar que sempre sonhei. O ambiente, as pessoas, a cultura tem tudo a ver comigo, com a forma como fui criado. Na Fórmula 1 há equipes e equipes. Esta é a que realmente me faz feliz. Mas só isso não explica. Como todo piloto, quero dispor de um carro que me permita vencer. E também nesse aspecto me encontro bem na Ferrari, que trabalhou muito para construir o F10, o melhor carro que já pilotei.

Estado – Você não vê nenhum excesso de otimismo nas suas declarações, não tem receio de decepcionar esses milhares de fãs que hoje, em pleno dia útil, encheram algumas arquibancadas só para vê-lo na pista?

Alonso – Esse medo sempre existe. São milhões na Espanha que têm enorme expectativa comigo, agora na Ferrari. Vi pessoas abraçadas com a bandeira da Espanha, há enorme paixão nisso tudo. E para essa gente só interessa se eu vencer. Se for segundo ou terceiro, será uma derrota. Tenho consciência da minha responsabilidade, o quanto eu tenho de dar de mim para conquistar os resultados que nós todos desejamos e não decepcioná-los.

Estado – De onde vem essa certeza de que você, depois de três anos, colecionou, pode-se dizer, frustrações na Fórmula 1, poderá ser campeão novamente?

Alonso – Feeling. Provém da facilidade com que piloto o F10, como ele reage às mudanças, dos tempos competitivos que registramos. Usamos 100% do nosso potencial para produzir o F10. Se outra equipe fez algo melhor, será incrível. Sabia que nosso projeto era revolucionário e tinha confiança total de que daria certo.

Estado – Você já declarou que os fãs podem apostar em você. Confirma?

Alonso - Sim. Corro com o melhor carro que já pilotei, tenho uma grande equipe e me sinto mais preparado do que nunca.

Estado – É possível perceber nessa massa carregada de emoção que te procura pessoas de todos os níveis sociais, dos mais simples aos que sugerem viver muito bem. Você tem fãs em toda sociedade. É uma unanimidade no seu país.

Alonso – Esse contato intenso me traz à mente a minha origem, ainda que eu não seja do tipo de ficar pensando muito no passado. Ao ver essas pessoas me lembro do meu pai dirigir 17 horas para me levar disputar uma corrida de kart, na Itália, e depois retornarmos a Oviedo, outras 17 horas. Em várias ocasiões, mesmo de carro, não tínhamos dinheiro para a viagem. Mas sempre aparecia alguém para me ajudar. Uma pessoa amiga, um patrocinador ou a equipe para quem pilotava. Isso me aproxima dos fãs e me faz sentir forte.

Estado – Você é um piloto bastante respeitado, mas há quem diga que para você produzir o que sabe precisa de tratamento diferenciado de sua equipe, dentre eles fãs brasileiros de Felipe Massa, seu companheiro na Ferrari. Como você responde?

Alonso – Haverá sempre opiniões a seu favor e contra. Respeito. O Felipe é um grande piloto, o Brasil ficou sem disputar um título por muito tempo e o Felipe chegou muito perto de conquistá-lo, com méritos. Os brasileiros podem ficar tranquilos quanto a nossa relação, ela é muito melhor do que parece para quem está de fora, nos damos muito bem.

Estado – Você e ele, no fim da reta, disputando a posição, e passa um piloto só na próxima curva.

Alonso – (Risos) Não será diferente do que vai acontecer se os pilotos forem Michael Schumacher e Nico Rosberg, da Mercedes, ou Lewis Hamilton e Jenso Button, da McLaren. Não há como não imaginar que ao longo de 19 etapas do calendário não experimentemos essa condição, vai acontecer, é uma das atrações da temporada. A diferença é que, por seu meu companheiro, haverá um respeito maior, não vai tentar uma ultrapassagem num momento delicado da corrida, por exemplo.

Estado – Michael Schumacher está de volta. Você o venceu nas temporadas de 2005 e 2006. Como pensa que será seu retorno à Fórmula 1?

Alonso – Vai enfrentar dificuldades muito, mas muito maiores das que estava acostumado. Há hoje uma geração de jovens e talentosos pilotos, com 23, 24 anos, já campeões do mundo, com importantes vitórias na Fórmula 1 e a competição também é outra. Não é mais como na época de Schumacher, em que existia dois times com possibilidade de disputar o título. Agora são bem mais e da mesma forma as escuderias, hoje adversárias de Schumacher, estão bem mais bem preparadas. Será um enorme desafio para ele. E para essa meninada toda bater o Schumacher terá sabor especial, vão assumir riscos.

Estado – Você se vê tanto tempo como ele na Fórmula 1 e depois, aos 41 anos, ainda regressar ao Mundial?

Alonso – Hoje, não. Mas as coisas podem mudar. Como aconteceu com ele. Devia estar em casa, sentindo enorme falta de correr e decidiu voltar. Entendo. Como falei, hoje não me vejo muitos anos na Fórmula 1.

Estado – Apoiaria seu filho a seguir seus passos?

Alonso – Eu lhe perguntaria, primeiro, se é mesmo isso o que deseja. Com certeza ele vai querer andar de kart depois de ver que tudo o que cerca o pai tem a ver com automobilismo. Eu o diria bem claramente o quão difícil é chegar à Fórmula 1, o que vai significar sendo filho de um piloto que já foi campeão, como isso tornará as coisas ainda mais complexas para ele.

Estado – Regressando a sua preparação para o campeonato deste ano, pelo que foi possível compreender você não simulou ainda um treino classificatório, com gasolina apenas para uma volta lançada, e amanhã (hoje) é seu último dia de teste, já que Felipe Massa assume o carro sábado e domingo. Como confiar que o F10, na etapa de abertura, será eficiente nessa condição?

Alonso – Não estou preocupado com isso. Depois de dez anos na Fórmula 1, deverei saber como tirar 100% do carro em cada momento do fim de semana de corrida. Se os engenheiros, que são bem inteligentes, determinarem a simulação amanhã, vamos lá, caso contráro fica mesmo para o GP de Bahrein. Confio num bom resultado.

crédito: Livio Oricchio - Estadão

2 comentários:

Anderson Nascimento disse...

Gostaria de fazer um elogio aqui ao jornal Estadão que sempre cumpre de maneira honesta e respeitosa a função do jornalismo. Quanto a Alonso, ele dispensa comentários, rsrsrsrs.

De Gennaro Motors disse...

Muito legal este bate papo com ele.

abraços

FERNANDO GENNARO